Depressivos são esses dias antes das viagens, das mudanças de contextos. A gente pisa no freio e a cabeça leva um baque, as coisas pedem outra ordenação, deslocam-se tempo, identidade, qualquer conceito abstrato. A adaptação é aleatória. Fico esquisita e só então vou procurar saber por que. Nunca sei, não acredito em explicação causal a posteriori.
Resta escolher a explicação mais confortável e pronto. A não ser que você seja como todo mundo e escolha os motivos casquinha de ferida pra fazer auto-análise antes de dormir. A esquizofrenia do pai, a insanidade dos outros... Mas não é só isso, a gente sempre precisa de uma tríade causal, enquanto ela não completar não há nada que nos faça dormir. Levanto da cama em em busca do terceiro elemento. Acendo o cigarro, ele acaba e a palavra é insuficiência.
Escovo os dentes. Volto pro quarto, tiro a roupa num fôlego. Há vários livros no quarto, a maioria semi-lida. O único entre eles que me instiga é um dicionário.
Insuficiência: escassez; incompetência.
Agora, mais do que nua, revelada.
Escassa e incompetente, embora definida, continuo a leitura e encontro uma narrativa de definições, pra cima e pra baixo. Insucesso, insuflar, insultar, insumo, insuportável, insurreição. E já ébria de sono, uma conclusão surreal a qual segue o sonho: o dicionário fazendo as vezes de um oráculo.
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