domingo, 4 de novembro de 2007

desligando pontos

Estava a andar pelos blocos, olhos baixos, olhando meus pés, um tanto decepcionada por não ter reparado que eu estava com minhas havaianas brancas encardidas. Foi então que passaram por mim dois pés descalços, não encardidos, pretos mesmo. Eram de um garoto que equilibrava num dos ombros uma cesta básica que devia pesar tanto quanto ele.
Certa compaixão atreveu-se a manifestar-se, mas em seguida veio o sarcasmo que tem me acompanhado nos últimos dias, pois não eu estava preocupada em refletir sobre nada, talvez seja por cansaço.
Continuei meu caminho e no carro estacionado por qual passei, li, "Tudo com Jesus, nada sem Maria". Isso trouxe além de mais firmeza a minha recente decisão de não refletir sobre o que ando vendo, uma enfadada revolta.
É que as coisas ao nosso redor vão acontecendo numa continuidade tão natural que parecem fazer parte de uma mesma coisa e que estão juntas a formar uma só realidade. Porém tão natural quanto a sucessão dos fatos é nossa preocupação imediata em interligá-los e como puderam perceber diante dos ocorridos descritos acima tal exercício tem exigido fé demais. Assim, desisti mesmo de refletir sobre as conjunturas cotidianas.
Há incoerências demais no mundo pra que eu me anime a procurar um possível - nem por isso provável - sentido que, nas profundezas das coisas (ou quem sabe nas alturas), costumamos achar que existe, eu, o pessoal do bloco e o garoto que não tem chinelos.