segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

desejos primários

Os dias e eu seguíamos num natural e tranquilo compasso, até que ele apareceu. Quando percebi, tinha-me posto a observá-lo. Censurei-me no início e voltei a me focar no que fazia antes, mas era como se eu tivesse desaprendido a técnica, senti-me mal acabada. A naturalidade com que eu existia simplesmente apagou-se.
Tudo o que ele fazia parecia mais divertido, surgia um inevitável desejo de fazer igual e era tão forte que eu não conseguia sossegar. Então eu tentei imitá-lo, até me de dei bem, não era difícil afinal, mas era sempre mais chato quando eu fazia. Eu olhava para o lado e novamente ele estava fazendo algo que parece melhor. Era um problema crônico, eu nunca o alcançaria.
Larguei mão... não adiantava me exaurir e frustrar. Meu interesse ainda era algo quase místico - jamais havia sentido algo assim - mas eu não precisava enfim entendê-lo, procurei outros modos de lidar com isso. Parei de gastar meu tempo observando-o: deixei-o, assim, como só ele sabe fazer. Apenas apareço pra pra ver como as coisas que ele fez ficaram no final e então pego de suas mãos, tomo pra mim e está resolvido.
Hoje, ao pensar há quanto tempo isso se estende me sinto exausta, porque na verdade eu queria muito parar, mas não posso, toda vez que ele aparece é a mesma coisa. A vontade que ele desperta não finda...
Por isso tomei uma decisão - e não me importa como a julguem - achei melhor mantê-lo junto a mim. Dispus-me a protegê-lo, a ouvi-lo, também o fiz sorrir e depois chorar - para mostrar como precisava de mim. O fiz feliz e então pude tomar a felicidade dele pra mim.



fundo sonoro: Just - Radiohead