quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

inócua

Acontece que de uns tempos pra cá as coisas ficaram estranhas. Ela ficara secretamente chata. Eram raras as músicas que não a enjoavam ou irritavam, lia autores à procura frustante de novas obras a sempre serem lidas e, quanto aos filmes, olhava a programação do cinema, mas lhe interessava mais reassistir os da locadora. Outro pormenor era que admirava cada vez mais das pessoas a sua volta, gostava do jeito de cada um, para ela tão característico como em personagens de filme ou mesmo de ligas de super-heróis.
Mas no fundo designava a eles a razão dessa perturbação toda, pois de algum modo obrigavam-na a fazer algo ao qual nunca se havia dado ao trabalho: mostrar pessoa que julgava ser. O motivo ter vivido até então meio as escondidas não me consta saber. Ela costuma explicar-se assim, que antes simplesmente não valia a pena. Mas eu diria que tal comportamento estava mais para uma decisão covarde do que sábia.
Hoje em especial me sinto com o corte cego. Sem problemas... todos tomam como pretexto minha inocuidade. E com razão, se chego a cortar, é só a minha a carne.