quinta-feira, 8 de julho de 2010

Terra do nunca

Uma pequena folha seca desce encaracolada no ar às dez da manhã. Antes do almoço as empregadas descem as escadas enroladas com crianças no colo.
Agora as meninas correm com suas roupas rosas. Se não brincarem não sentirão fome. O sol aquece uma mulher no banco, a conversa solidariza outras duas. Eventualmente alguém cai e chora, o que não gera maiores alarmes: questão de sorte: se não fosse você seria a outra.
Pequenas tragédias abulantes, grandes em potencial... 
A claridade obriga-nos a deitar um olhar sombrio.
Vejo os primeiros flocos de paina do ano. Cada um deles guarda uma memória pueril. São necessariamente recentes, pois sua textura, quase insensível ao toque, desmancha-se com qualquer sopro de tempo. Em breve o chão estará branco, repleto de memórias perdidas. Mas parecerá uma grande nuvem e quem quiser ainda poderá brincar de andar sobre elas.

fundo sonoro: The Blues are Still Blue - Belle and Sebastian