O elefante assiste o segundo em que eu abro os olhos e os primeiros movimentos do corpo que quer se render, me debruço, me enrolo, querendo voltar à escuridão insípida do sono. Ele sabe o peso que me é ao acordar, ele é o peso.
Não o olho mais, antigamente passava noites em claro fitando-o.
Quando levanto vou direto ao banheiro, vagarosamente sento e esvazio a bexiga, lavo a cara e volto pro quarto para puxar os lençóis. Aliso, arrumo, e por último - e completamente irrelevante - modelo o travesseiro. Não sei mais julgar quanto estou melhor ou pior. Aqui dentro é como se eu nunca arrumasse a cama.
São fases em que o tempo diferente, tempo em que a saudade não existe. Nem nem sua cogitação é bem-vinda.
O elefante apenas observa, possui aquela sabedoria paciente de quem tem consciência de seu tamanho. O que foi feito não tem volta, mas também não tem como apagar... É preciso continuar vivendo, por isso passo a agir de forma a ignorá-lo, ou seja, não tomando atitude alguma a respeito. Praticamente não se escolhe e se costuma com o peso. Não posso fingir que não é nada, mas também já não é mais nada de novo - daí minha indiferença.
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